Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.[1]
Quanto mais a criança cresce, mais o universo se amplia e mais a superioridade masculina se afirma (...). A hierarquia dos sexos manifesta-se a ela [à menina] primeiramente na experiência familiar; compreende pouco a pouco que, se a autoridade do pai não é a que se faz sentir mais cotidianamente, é entretanto a mais soberana; reveste-se ainda mais de brilho pelo fato de não ser vulgarizada (...). A vida do pai é cercada de um prestígio misterioso: as horas que passa em casa, o cômodo em que trabalha, os objetos que o cercam, suas ocupações e manias têm caráter sagrado. Ele é quem alimenta a família, é o responsável e o chefe. Habitualmente trabalha fora e é através dele que a casa se comunica com o resto do mundo: ele é a incarnação desse mundo aventuroso, imenso, difícil, maravilhoso; ele é a transcendência, ele é Deus. [2]
1 - BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, [1949] 1980, p.9. (negritos meus)
2 - BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, [1949] 1980, p.28-29. (negritos meus)
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